A final do Campeonato Brasileiro de Carabina, Pistola, Rifle e Tiro ao Prato terminou no último dia 28 de novembro no Centro Nacional de Tiro Esportivo, no Rio de Janeiro. Durante quatro dias, o evento, organizado pela CBTE, reuniu 681 atletas de 22 federações em 65 disciplinas e teve um excelente nível técnico. A competição contou com atletas de diferentes idades e gerações. De um lado, os mais experientes como Edmar Vianna de Salles, de 93 anos, e Paul Antoine Maron Gedeon, de 82. De outro, jovens como Lucas Tuski Nonato, de apenas nove anos, e Hussein Kluber Daruich, de 14.
O mineiro Seu Salles, como é carinhosamente conhecido, competiu na Carabina Deitado Masculino e é o matriculado número dois da Confederação. Começou no tiro esportivo em 6 de outubro de 1946 na prova de Carabina para calouros. Quatro anos depois disputou seu primeiro Brasileiro no estande do Fluminense, no Rio de Janeiro. Nesses 75 anos na modalidade, soma dois títulos mundiais (1954 e 1974), duas medalhas de bronze em quatro Jogos Pan-Americanos, dois bronzes em três Sul-Americanos, 11 títulos brasileiros (Sênior, Master e Veteranos) e 30 mineiros. Defendeu o Brasil nos Jogos Olímpicos da Cidade do México, em 1968, e na primeira edição dos Jogos Luso Brasileiros de Lisboa, em 1960.
“Comecei no esporte na natação do Minas Tênis Clube, mas antes de 1940 meu pai me ensinou a atirar com carabina de chumbinho. Foi amor à primeira vista. No Brasileiro de 1950 fui considerado a promessa do tiro e, desde então, estou sempre presente na competição. Nos últimos anos passei a disputar a prova de Carabina Deitado Masculino”, disse Salles, que também tem no currículo três recordes da CBTE nessa disciplina. “O tiro é uma coisa deliciosa, motivante, uma paixão e uma briga constante para melhorar sempre. É uma atração que não acaba nunca. Me sinto honrado por servir de inspiração para várias gerações”, completa Seu Salles, que também esteve presente em três Mundiais de Veteranos e conquistou 11 medalhas (oito de ouro, uma de prata, uma de bronze e uma de porcelana).
Químico industrial aposentado, Paul Antoine Maron Gedeon, de 82 anos, nasceu no Líbano, em 1939. Com cinco anos começou a praticar Tiro ao Alvo com ar comprimido em sua cidade natal. Aos 14, passou para o Tiro ao Prato e ganhou a primeira competição. Em julho de 1958, com 19 anos, veio para o Brasil, naturalizou-se e, desde então, defende o Clube de Tiro de Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. Gedeon foi duas vezes campeão brasileiro: em 1981, no Trap, quando bateu o recorde nacional com 197 pontos em 200; e na Fossa Olímpica, no dia do seu aniversário, 4 de outubro de 1991. Defendeu o Brasil em várias competições nacionais como o Torneio Benito Juarez, no México, em que conquistou a medalha de bronze. Também atuou como árbitro internacional nos Jogos Pan-Americanos Rio 2007, na Copa do Mundo do Brasil e nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, ambos em 2016.
“Meu pai era médico e minha mãe do lar. Eles e meu irmão, que também era atleta da modalidade, sempre me incentivaram e acabei me apaixonando pelo tiro. Gosto muito de competir e até hoje me mantenho em forma porque deixa minha cabeça bem tranquila. Nós, os mais velhos, temos que dar exemplo para os mais novos. O Hussein é um exemplo e vai longe. Ele é humilde, educado, é fabuloso”, afirma Gedeon. “Posso dizer que o tiro esportivo não sai da cabeça, é a minha própria história”, destaca o carioca que é casado há 57 anos (completa dia 11 de dezembro) com a francesa Franceline, que conheceu no Brasil.
Humilde, estudioso, dedicado. São algumas das qualidades do jovem Hussein Daruich, de 14 anos. O paranaense lembra que seu tio, Adl Darwich, também atirador, o incentivou a entrar no esporte aos quatro anos. Começou na modalidade no Trap Americano. Hussein em pouco tempo vem conseguindo resultados expressivos. Em 2018, com 11 anos e oito meses, disputou a primeira final adulta no Brasileiro de Excelência de Tiro ao Prato, em Guarapuava (PR), e marcou 116 pontos em 125. Esse ano, no Brasileiro em São Paulo, se classificou para a final com outros cinco adultos, com a incrível marca de 119/125 pontos. O atleta passou para o nono ano em 2022, mas faz questão de ressaltar que em sua rotina os estudos estão em primeiro lugar.
“Se eu não for bem na escola, não vou treinar no clube. No esporte, a cada dia estou ganhando mais experiência, me acostumando com o equipamento e ganhando mais confiança. Na hora do treino e da prova você precisa ter muita concentração e foco para não se descuidar com qualquer barulho. Não adianta sair dando mil tiros, o treinamento precisa ser correto para não se desgastar. Além disso, o esporte é muito atraente, é só começar que a paixão é imediata”. Sobre o futuro, ele é claro e objetivo: “sonho com uma vaga olímpica desde que comecei a competir. O meu objetivo é esse. Quero ser campeão olímpico e mundial, finaliza o atleta da Fossa Olímpica, que tem o patrocínio da CBC e da Taurus e conta sempre com o apoio dos familiares.
Desde os três anos de idade, Lucas Nonato acompanha seus pais, Ademar e Val, no Tiro Esportivo nas provas de Carabina. Dessa forma, as competições sempre fizeram parte da sua rotina. “Não me vejo mais ficar fora de uma etapa”, afirma o jovem atleta, de nove anos. Mas foi em maio desse ano que o catarinense, que está no quarto ano do ensino fundamental, começou a praticar a modalidade na Carabina Mira Aberta de Ar na Sociedade Cruzeiro Joinvillense. No mês passado, fez sua estreia numa final do Campeonato Brasileiro na Carabina Mira Aberta 10m e ganhou a medalha de prata.
“Fiquei mais nervoso do que imaginava. Entendi melhor a tensão dos meus pais durante as competições. A experiência foi ótima, e me sinto orgulhoso em fazer parte da primeira turma na categoria infantojuvenil pelo Campeonato Brasileiro de tiro esportivo”, conta Lucas. “Meu sonho é um dia ser atleta olímpico e representar bem o Brasil. Também espero fazer novos amiguinhos no tiro esportivo em 2022”, completa Lucas, que é atleta do Clube Dematek de Tiro Esportivo, de Joinville (SC).