Primeiras medalhas no esporte vieram com equipamento dos EUA
O Brasil é o País do futebol? Não há como duvidar que o esporte bretão é o mais popular em terras tupiniquins. Entretanto, a primeira grande conquista esportiva de brasileiros foi no tiro esportivo. Foi na modalidade no longe ano de 1920, em Antuérpia, na Bélgica, que Guilherme Paraense conquistou a primeira medalha de ouro para o Brasil nos Jogos Olímpicos. No Rio-2016 serão nove atletas, mas uma coisa permanece igual: a qualidade dos equipamentos é parte fundamental para a briga pelo pódio.
Na ocasião, naquele começo de século, a equipe brasileira contou com a ajuda dos atletas norte-americanos para ter uma qualidade maior em suas armas de competição. Parte das pistolas e da munição do País foi roubada durante o trajeto de trem até a Bélgica. Afrânio Antônio da Costa, capitão da equipe brasileira, acabou fazendo amizade com a delegação dos EUA, que cedeu duas pistolas Colt ao time nacional. Elas ajudaram os brasileiros a ganhar medalha.
“Nesta ocasião, o coronel Snyders, do Exército Americano e capitão da equipe de pistola livre, me disse: ‘Sr. Costa, essa arma não vale nada, vou arranjar duas para os senhores, feitas especialmente para nós pela fábrica Colt’’ E voltou pouco depois trazendo duas belíssimas armas. Retificadas as armas por ele próprio, entregou-as desejando melhor resultado”, narrou Afrânio no relatório oficial entregue às autoridades após a competição.
Hoje, entre carabinas, pistolas e espingardas, uma “caridade” dessa não seria possível. Há peças e armas feitas sob medida para os competidores, as munições são garimpadas nos melhores fabricantes do mundo e os ajustes feitos por cada atleta fazem a diferença tanto quanto a qualidade do atirador. “São armas pessoais, cada equipamento é adaptado para cada um dos atletas. Influi o tamanho da mão e do braço”, explica Durval Balen, presidente da CBTE. “São adaptáveis. Hoje, por exemplo, as empresas já podem fornecer armas e equipamentos de acordo com a solicitação feita pelo atleta. Os materiais são mais leves em alguns casos”, completa.
Ao todo serão 15 provas. No masculino são: carabina de ar 10m, carabina deitado 50m, carabina três posições 50m, pistola de ar 10m, pistola de tiro rápido 25m, pistola 50m, Fossa Olímpica, Fossa Double e Skeet. No feminino há menos disputas: carabina de ar 10m, carabina três posições 50m, pistola de ar 10m, pistola 25m, Fossa Olímpica e Skeet.
Particularidades
Não é em todas as provas que a personalização da arma é permitida, no entanto. Na Carabina de ar 10m, por exemplo, todos os atletas utilizam uma carabina “standard”. Já os ajustes permitidos são controlados pelos organizadores da modalidade, como a ISFF (Federação Internacional de Tiro Esportivo, em inglês), mas eles fazem a diferença. Nas carabinas, pequenas variações podem fazer toda a diferença. A coronha e a ação (o cano) são parafusadas. Já o apoio para o ombro, chamado de soleira, varia para cada prova e se ajusta ao ombro do atleta, mudando altura, curvatura e ângulos. O apoio da bochecha também é feito para se adaptar ao osso malar e o tamanho da face (mais cheinha ou seca) do atleta, altura do olho e inclinação em que a cabeça fica. No tiro ao prato, que utiliza armas calibre 12, a coronha é constantemente trocada para encaixar com precisão no atleta.
“A compleição física do atleta é medida, o encaixe dele na arma tem de ficar perfeitamente ajustado, como se fosse parte integrante de seu corpo”, explica Balen, da CBTE.
Dificuldades
Entretanto, nem tudo é perfeito na vida dos atletas brasileiros. Se a tecnologia ajuda, a burocracia atrapalha. Segundo o presidente da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo, juntamente com o custo, as restrições às armas esportivos são o principal entrave a modalidade no Brasil. “A legislação dificulta enormemente a prática do tiro esportivo aqui no Brasil. Essas barreiras, que surgiram em função do Estatuto do Desarmamento e até hoje não houve nenhuma alteração nesse sentindo, atrapalham. Não é feita distinção entre o equipamento do tiro esportivo e armas para defesa pessoal do cidadão comum. Só pode adquirir arma uma pessoa com 25 anos de idade, e temos um atleta com destaque no mundo, que é o Felipe Wu, que tem 23 anos de idade. Pode praticar apenas porque ele é militar”, conta Durval Balen.