A UTILIZAÇÃO DA PALAVRA ATIRADOR PELA MÍDIA

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Abaixo segue o relato de nosso associado Alexandre Fernandes Coelho, através do Fale Conosco de nosso site, que muito bem elucidou a questão sobre a utilização inapropriada da palavra ‘Atirador’ durante os últimos dias em toda mídia, devido à trágica passagem de Wellington Oliveira pela Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo:

Meu nome é Alexandre Fernandes Coelho, sou atirador esportivo, regularmente registrado no Exército Brasileiro. Primeiramente quero consignar meus mais profundos e sinceros sentimentos para com as famílias vitimadas pela terrível tragédia ocorrida na manhã do dia 7 de abril de 2011. Saliento o importante papel da imprensa – veiculada pelas mais diversas mídias -, no exercício basilar e estrutural de manutenção do Estado Democrático de Direito, que vem sendo reconstruído desde a promulgação da Constituição Federal de 1988.

Quero, através deste humilde arrazoado, apenas esclarecer a impropriedade quanto à utilização da palavra ‘Atirador’ para designar Wellington Menezes de Oliveira, pois não apenas eu (mas qualquer atirador), me sinto pessoalmente ferido diante de tal fato. Nós, atiradores (e atiradoras) desportivos, praticantes de um esporte tão saudável, gregário e digno, quanto qualquer outro, somos diariamente vitimados pelo preconceito de nossos semelhantes, que não raro nos julgam pessoas violentas e de disposição severa, tomando como base tão-somente nossa atividade desportiva e recreacional.

Wellington Menezes de Oliveira jamais foi – ou jamais poderia ser – um atirador, pois este é o título apropriado para designar o praticante de um esporte e não um criminoso (seja ele imputável ou não). Creio que não seja intencional, mas sempre que Wellington é rotulado de atirador pela mídia, o preconceito contra os atiradores desportivos é aumentado, através do estímulo dos leigos ao medo e à aversão contra tudo aquilo que lhes pareça estranho ou diferente. Existem também outros atiradores que têm sua imagem indevidamente manchada sempre que Wellington é chamado de atirador: os profissionais civis e militares que dedicam suas vidas à manutenção de nossa segurança. Sejam eles policiais ou integrantes das forças armadas, todos são atiradores. Devemos lembrar que as nefastas ações de Wellington foram interrompidas pela pronta e eficiente ação de um herói que realmente merece o título de atirador: o Sargento Alves, Policial Militar que atribuiu sua exitosa e heróica intervenção ao seu constante treinamento na atividade do tiro.

Nós, atiradores, somos cidadãos brasileiros assim como todos os outros. Reagimos de forma triste e indignada diante dos acontecimentos desta manhã do dia 7 abril, assim como todos os seres humanos deste planeta. Nossa atividade desportiva gera milhares de empregos em clubes e na indústria, sendo certo que os impostos arrecadados são (ou deveriam ser) revertidos para o custeio dos serviços públicos destinados ao atendimento de todos os cidadãos. Somos constantemente fiscalizados pelos órgãos competentes, que nos impõe as necessárias e severas regras para aquisição e transporte de nossos equipamentos. Por fim, cumpre esclarecer que Wellington nem mesmo tinha atingido a idade mínima de 25 (vinte e cinco) anos – imposta pelo artigo 28 da Lei 10.826 de 2003 – para a aquisição regular de uma arma de fogo. Ainda devo frisar que Wellington jamais seria aprovado no rigoroso exame psicotécnico – imposto pelo artigo 3.º da mesma Lei – necessário à aquisição regular de uma arma de fogo. Noutras palavras: a aquisição das armas e da munição por Wellington, já constituía uma atividade irregular, criminosa, premeditada e preparatória, pois ele nem ao menos poderia fazê-lo conforme a Lei, junto a uma loja. Esta forma de aquisição criminosa deve ser combatida pelo Estado. As campanhas de desarmamento precisam concentrar seus esforços para desarmar os criminosos como Wellington, que vêem nas armas – sejam elas brancas ou de fogo, improvisadas ou não – os meios para ferir as Leis e a sociedade.

Lembremos do lamentável evento ocorrido em fevereiro deste ano de 2011, quando Ricardo Reis, utilizando seu automóvel como um aríete, atropelou vários ciclistas em Porto Alegre, abrindo diversas discussões sobre a escalada da violência no trânsito, sem que fosse sequer ventilada a possibilidade de proibição da venda de automóveis, pois tal solução afigurar-se-ia absurda, além de inócua no combate à violência. Consigno aqui meu apelo à imprensa em geral, para que Wellington deixe de ser chamado de atirador e para que o foco de luz seja direcionado ao cerne do problema: a crescente escalada da violência urbana, que muitas vezes se cristaliza sem o emprego de armas de fogo e deve ser combatida através da melhoria da segurança pública, mas nunca pela proibição cega ou pela desinformação.

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