São Paulo (SP) – Estamos completando uma semana do encerramento dos Jogos Olímpicos de Pequim.
Nesta altura, os concorrentes, felizes ou desiludidos, já retornaram aos seus países e os para-olímpicos já estão chegando para usar as mesmas arenas que foram o palco dos maiores Jogos até hoje realizados.
A sua repercussão não vai cessar tão cedo. Os comentários e avaliações gerados por aquele certame são tão fartos em ângulos e matizes que, creio, durante meses continuarão ocupando considerável espaço em todos os veículos de comunicação.
Esta análise a posteriori é muito importante, pois ela constitui um instrumento para planificação dos próximos Jogos e, principalmente, valerá como subsídio à futura política governamental voltada para a educação física e os esportes, na maioria das 204 nações participantes do grandioso evento efetuado na China.
Nós também não podemos deixar de expor nossa opinião sobre os temas levantados amplamente pela crônica e pelos que acompanham mais de perto o fenômeno sócio-cultural que é o esporte em todo o mundo.
No que concerne à participação do Brasil, podemos dizer que ela se manteve nos padrões dos últimos doze anos. Estivemos em número de medalhas e classificações olímpicas muito próximos aos resultados alcançados nos Jogos de Atlanta, em 1996, de Sydney em 2000 e da Grécia em 2004.
Uma visão primária daquele fato levaria à conclusão que estamos estacionados, mas isto não é correto. Evoluímos ao manter a mesma situação num momento em que o nível esportivo do mundo cresceu de maneira intensa, o que já é um grande índice de progresso. Nesta Olimpíada foram batidos 43 recordes mundiais e 136 recordes olímpicos, fora os recordes sul-americanos obtidos por atletas e nadadores do Brasil que não obtiveram medalhas, ou foram eliminados nas primeiras séries da competição. Se estivéssemos estagnados, não teríamos acompanhado as demais nações e o nível técnico geral.
Cabe então perguntar se a 23ª colocação na classificação geral é compatível com a situação sócio-econômica do Brasil, com sua população e a imensa área territorial? É claro que não! O lugar natural de nosso país é integrar o big ten, isto é, estar entre as 10 principais nações do mundo.
Caberia neste momento perguntar o que deve ser feito, quais as providências a serem tomadas para a melhoria do desempenho nor próximos Jogos. Aliás, neste aspecto, ocorreu uma profusão de manifestações dos dirigentes esportivos, dos órgãos governamentais, dos veículos de divulgação, algumas concordantes e outras conflitantes.
Um pronunciamento mais sério e responsável sobre este tema passa por uma análise da situação atual do esporte, por um diagnóstico do que está ocorrendo nesta área em nosso país e, a seguir, possibilita a execução de um plano, uma terapêutica que não só melhore o nosso comportamento técnico nos Jogos Olímpicos e eventos internacionais, mas, principalmente, inclua a atividade física e esportiva nos hábitos da população nacional, medida que propiciaria, além da conquista de medalhas, profundos resultados na área do social.
Estes dois objetivos não são excludentes e podem atingir os fins visados com um único plano de trabalho. Na primeira parte, deve-se avaliar quantas pessoas, numa população de 192 milhões de habitantes, estão efetivamente sob a égide do esporte e quantas estão excluídas dele, por razões sociais, culturais e econômicas. É necessário analisar um por um os grupamentos humanos que poderiam contribuir para que venhamos a ter uma base quantitativa suficiente para alcançar um vértice qualitativo que inclua o Brasil entre os 10 principais detentores de medalhas olímpicas a médio prazo.
A segunda parte deve propor um plano de trabalho para se atingir a meta condizente com a potencialidade do nosso país. Precisamos superar o período da caça, em que os talentos aparecem de forma silvestre e fortuita, sem um trabalho específico, para chegarmos ao período da agricultura, em que nossos medalhistas sejam provenientes de um trabalho planificado. A Austrália, por exemplo, com condições de clima e tropicalidade bem próximas às nossas, está entre os cinco primeiros, como resultado de um planejamento consciente. O mesmo pode ser dito em relação à China, motivada pela disputa de uma liderança com os Estados Unidos. A experiência de vários países não pode deixar de ser avaliada e o método histórico comparativo reforçará os argumentos, não só quanto à necessidade de um projeto, mas, principalmente, quanto a sua direção e conteúdo.
Um estudo detalhado desta questão e um programa de trabalho subseqüente são tão ricos de conteúdo que nos animamos a reuni-los em um livro que procuraremos lançar ainda neste semestre, devidamente avalizado pela Phorte Editora.
Os conceitos, sedimentados após vários anos de vivências, são baseados nos resultados de todos os Jogos Olímpicos e serão apresentados nesta coluna e oferecidos aos fiéis leitores que procuram na leitura do noticiário esportivo algo a mais do que informações sobre quem marcou os gols na última rodada.